A beleza pode e não pode salvar o mundo

O filósofo Tzvetan Todorov recordou a mítica frase de Lev Nikoláevitch Míchkin: "A beleza salvará o mundo." A fala de Todorov foi exibida no programa "Café Filosófico - CPFL" da TV Cultura de 20 de abril. O filósofo búlgaro (prefere se reconhecer como historiador das ideias) interpretou a famosa declaração de Michkin como a representação da crença na generosidade humana, na democracia, na liberdade, e seu efeito como antídoto contra o grotesco que ameaça abater no chão as esperanças de paz de visionários influenciados por vocação iluminista.

 Michkin é o protagonista de "O Idiota", o mais belo romance de Fiódor Dostoíévski, e imaginar a sua transposição para a sociedade em que vivemos hoje pode ajudar a entender o que somos ou o que deixamos de ser. Michkin é o único justo no meio de pessoas que são feras prontas para atacá-lo. E o lado sublime da vida, que ele inspira, não o impede de se meter em uma rede de intrigas que faz dele a vítima de uma areia movediça. Ser bom não o salva do mal, e esta é a grande lição do romance.

 A sociedade passa por transformações na sua composição, mas a essência continua sempre a mesma: ambição, interesse em jogo, tudo pelo poder. A chamada Belle Époque, que inaugurou o século 20 com boas previsões, não foi capaz de deter a Primeira Guerra Mundial. Enquanto muitos acreditavam num período de prosperidade e paz, que poderiam ser representados por uma figura como Michkin, uma rede de intrigas preparava a carnificina dos campos de batalha. Era uma época em que havia combate de trincheira. Tempos depois, o mundo viveu a criatividade dos artistas da Geração Perdida de Paris. Mas, enquanto isso, também eram fabricadas as condições para as montanhas de cadáveres da Guerra Civil Espanhola e da Segunda Guerra Mundial. A beleza não salvou o homem da morte.

 Na Revolução Francesa é outro caso de geração de extremos. Com o generoso e entusiasta lema de "liberdade, igualdade e fraternidade", os acontecimentos revolucionários de 1789 produziram o Terror, período em que 17 mil pessoas foram executadas em praça pública com o uso da guilhotina e outras 23 mil teriam morrido sem julgamento ou defesa. Entre os decapitados estavam o rei Luís XVI e a rainha Maria Antonieta. Este massacre não impediu que, numa Europa pós-revolucionária, Ludwig van Beethoven encantasse o mundo com sua Quinta Sinfonia, o alemão Johann Wolfgang von Goethe desconcertasse toda a literatura com o seu "Fausto", uma obra-prima, e o espanhol Francisco de Goya reproduzisse o mundo sombrio em telas que sacudiram a arte visual.

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